domingo, 13 de julho de 2008

Um mundo sem fronteiras

Hoje pela manhã fui tomado por um sentimento misto de felicidade e tristeza ao acompanhar minha filha Susan ao aeroporto. Aos vinte anos, ela está iniciando uma nova fase de sua vida em São Francisco, na California. Vai encarar o mundo de frente e mostrar sua capacidade de se dar bem, mesmo estando geograficamente longe de sua família.

Esse momento pessoal evocou em meu coração a sensação que tive ao chegar pela primeira vez à Índia, mais precisamente em Nova Delhi, e sentir que continuava em casa. É uma experiência indescritível essa que nos acomete quando identificamos nosso lar e nossa pátria em lugares distantes. O mundo num instante se torna pequenininho e as sombras enigmáticas do "desconhecido" o abandonam, cada vez mais, a cada nova viagem.

Mas ao longo de minha vida pude também testemunhar alguns casos em que o viajante foi colhido por uma profunda sensação de "desencaixe", que só poderia ser curada pelo seu retorno ao lar. "Home sickness", ou saudades do lar, é como uma tontura que abala nosso coração - quase como se de repente nos faltasse o oxigênio, ou como se nos restasse apenas o suficiente para fazer o caminho de volta, sem demora.

Tive a oportunidade ainda de conhecer pessoas que simplesmente não se permitem sentir-se à vontade fora de seu país ou de sua casa porque sua mente inquieta bloqueia qualquer sentimento de agrado por quaisquer lugares que não sejam seu lar e seu país de origem. Imagino que isso tenha a ver com valores intelectuais - ideologias - e que esteja completamente desconectado de sentimentos verdadeiros. Essa é uma condição que eu chamaria de "mórbida", do tipo que fundamenta os nacionalismos políticos, e anda sempre acompanhada de justificativas elaboradas nas quais se constrói a idéia de superioridade ou de "exclusividade proprietária", uma idéia dotada de uma força que atrai e envolve cada componente da comunidade.

Quem sai de casa com o coração aberto, por outro lado, sente felicidade por estar onde quer que esteja. Sua família é a Humanidade e sua pátria é o mundo inteiro. Isso só pode acontecer para alguém sincero, que carrega consigo mesmo valores universalmente aplicáveis que mostram seu colorido pessoal em qualquer paisagem que o cerque. O indivíduo autêntico não se esconde sob bandeiras nacionais nem se revela apenas dentro de grupos que compartilham um perfil determinado. Ele é o mesmo em qualquer lugar e em qualquer companhia - e por isso desfruta da felicidade de se sentir bem em quaisquer circunstâncias. Mesmo que as pessoas ao seu redor sejam muito diferentes, ele ainda asssim se sente um igual, e se comporta como um igual.

As fronteiras nacionais são convenções sociais que só podem existir no papel. Quando elas se incorporam à alma das pessoas, o mundo se torna estranhamente hostil. A Humanidade deveria procurar uma vacina contra os sentimentos nacionalistas. Deveria banir essas barreiras que exigem que uma pessoa natural peça autorização para poder transitar em não importa que lugar do mundo natural. Não é correto, não é justo, não é humano - é apenas um produto da razão humana enlouquecida pelo egoismo, mas se tornou uma doença que hoje afeta toda a Humanidade.

As fronteiras nacionais, embora perfeitamente justificadas pelo entendimento de que o ser humano é um perigo em potencial para a comunidade humana, pecam justamente por funcionar como agentes de reforço de ódios alimentados politicamente. Onde existe uma fronteira se manifesta uma supervalorização daquilo que está para o lado de cá, e um grande desprezo pelo que se estende além desses limites imaginários. É como se a Natureza funcionasse diferente de cada um dos lados dessa divisa, e fosse deficiente apenas do lado de fora. As fronteiras são os traços fisionômicos que identificam cada uma das guerras que a Humanidade tem para se arrepender.

Fronteiras nacionais fazem mal ao coração do ser humano autêntico. Elas são contrárias ao espírito do yoga e contradizem também a crença na igualdade de todo ser humano. Onde quer que a Paz tenha se instalado, as fronteiras deixaram de fazer sentido e acabaram caindo no esquecimento. O fato de ainda existirem fronteiras no mundo, apesar de todo o gradual amadurecimento do espírito ambientalista e das campanhas contra a violência, mostra que o o planeta humano ainda está muito doente, e talvez ainda bem longe da cura. A cura depende de uma providência impossível de se determinar por convenções, leis ou decretos. É necessário que cada indivíduo, como pessoa natural que é, remova de seu coração essas barreiras não-naturais.

Quando cada um de nós perceber o estrangeiro e o diferente como um compatriota e um igual, não haverá mais razão para dar nomes aos países ou nacionalidades. Não fará o menor sentido exigir um passaporte ou qualquer outro título de vinculação social para assegurar a uma pessoa humana seu inalienável direito à liberdade e ser e viver, de se mover e interagir - em qualquer lugar e com quem quer que seja.

Minha filha hoje foi para o outro lado da cerca, milhares de quilometros para longe de sua família. Como sei que não alimentamos barreiras em seu coração, fico feliz porque ela estará em casa, onde quer que esteja - e poderá desfrutar da suprema felicidade de se realizar como ser humano, e fazer de cada nova amizade um membro adicional para nossa grande família.

Um comentário:

jabezraciti disse...

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