quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Raízes do Yoga

Se você quer encontrar um assunto polêmico dentro da cultura sânscrita começe a buscar as origens mais antigas do yoga. Você vai encontrar opiniões apaixonadas, manifestações de protesto, discussões acadêmicas intermináveis e teses disparatadas. Raramente se encontra nesse campo uma postulação serena com informações que realmente possam interessar ao infeliz pesquisador.

Pois bem, então aqui vai uma boa notícia. O Centro de Yoga Montanha Encantada, localizado em Garopaba, SC, está promovendo uma semana de imersão nas Raízes do Yoga que promove uma experiência vivencial da herança antiga dessa doutrina - sem nenhum conflito com o yoga moderno. Mantras védicos da mais remota antiguidade serão integrados a práticas contemporâneas de mudras e asanas, para que se veja como tudo se harmoniza, quando queremos.

Não vão faltar elementos teóricos também, pois essa semana faz parte de uma programação maior de estudos avançados de yoga, destinados a quem busca um conhecimento bem fundamentado. As atividades são ministradas por dois indianos, um norteamericano e dois brasileiros, comigo na coordenação. De quebra haverá introdução lúdica ao Sânscrito em dois níveis (de acordo com a formação anterior do participante).

A semana das Raízes do Yoga se estende de 21 a 28 de novembro, e informações adicionais podem ser obtidas diretamente com a equipe da Montanha Encantada:

Recepção (48) 3254-2111
Escritório (48) 3254-2112
programas@yogaencantada.com.br

quinta-feira, 26 de março de 2009

Ah, como somos bobos...

Agora ha pouco recebi mais um email supostamente bem intencionado informando, desta vez, que a digitação da senha do cartão bancário invertida acionaria a polícia, e que é um procedimento recomendável em caso de sequestro relâmpago. É claro que se trata de mais uma informação falsa e mal intencionada, que vai levar alguns crédulos a digitar a senha errada e bloquear o seu cartão bancário, além de colocar sua vida em sério risco, na hipótese de estar sendo vítima de um assalto. Mas a pessoa que repassou para mim essa mensagem é absolutamente confiável, e o fez por acreditar que essa era a coisa certa a fazer - compartilhar uma informação "privilegiada" que poderia ser muito útil em uma situação de emergência.

Por que razão acreditamos em tolices como essas? Por que somos tão bobos a ponto de aceitar mensagens que são tão obviamente absurdas, tomando-as como informações de utilidade pública que devem ser repassadas para todos os nossos contatos? 

Acredito que este seja um tema adequado para psicólogos ou sociólogos, e não me atrevo a levantar hipóteses nessa área. Não sou analista. Quando muito poderia me candidatar a paciente.

Frequentemente essas informações de utilidade pública batem em mim e retornam com uma resposta. Ultimamente tenho respondido a muitas mensagens que querem me mostrar a verdadeira face da Índia, aquela que a novela da Globo não mostra. Justo para mim... Tenho de confessar que as mensagens são chocantes, não por seu conteúdo, mas por sua malignidade. Fico impressionado com o esforço que certas pessoas fazem para denegrir a imagem de um país que certamente não conhecem, mas que por alguma razão doentia odeiam profundamente.

Já descobri que grande parte das mensagens contra a Índia são produzidas por cristãos fervorosos, em geral participantes de algum movimento ou organização vinculado ao Cristianismo. Eles tentam mostrar ao mundo o quanto o Hinduísmo ou o Islamismo são destrutivos para a dignidade humana. Certamente acreditam que estão prestando um grande serviço à causa religiosa pela qual militam, mas o que fazem, de fato são atos de terrorismo, que deveriam ser observados com mais atenção pelas autoridades policiais.

Certamente não se trata apenas de jovens delinquentes amadores aprontando brincadeiras de mau gosto. Temos jornalistas profissionais produzindo desinformações que afastam o interesse dos brasileiros pela Índia - que é apresentada como se fosse o pior lugar para se conhecer em todo o mundo. A revista Veja, em agosto de 1999 publicou uma matéria sobre a Índia que é um primor de deturpações. Ela chega a afirmar que "cerca de 70% das mulheres grávidas sofrem de anemia, dando à luz crianças desnutridas", um número 25 vezes superior ao que foi constatado pela ONU em seus relatórios.

Outros contumazes divulgadores de uma tragédia inexistente são as ONGs. Ah, as ONGs... Como gostam de exagerar em números, para comover possíveis doadores para a sua causa. O jornalista britânico Peter Foster publicou em seu blog um artigo mostrando sua preocupação com essas dirtorções, nos seguintes termos: "A dificuldade é que, como repórter diário, se uma ONG destaca um número e você toma essa ONG como fonte, isso inevitavelmente cria uma manchete - exatamente como pretendia a ONG - que busca publicidade para sua "causa" (e seus esforços de levantamento de fundos)". Aqui a desinformação atende a interesses econômicos, disfarçada de nobre causa social.

Há também a desinformação plantada por países que não querem a integração entre os emergentes. Não é paranóia nem teoria da conspiração, mas sim uma parte do complexo jogo da diplomacia internacional, que acompanha a força dos interesses comerciais de cada país que entra nesse jogo. Pense bem, o que significaria para os países mais ricos do mundo uma integração entre Índia, China e Brasil? Quase a metade da população do mundo, com um imenso potencial para, por meio da cooperação mútua, deixar de ser o mero mercado consumidor desses países, para assumir o comando da Economia mundial.

Para trocar em miudos, há muitos interesses contrários a que saibamos das verdadeiras coisas boas que existem na Índia (e na China, é claro). E o que é mais curioso é que somos bobos o suficiente para acreditar nesses mal intencionados, colocando em prejuizo o nosso interesse por países que poderiam ser nossos melhores parceiros para uma grande reviravolta de poder no mundo.

De qualquer maneira, toda essa conversa foi apenas para pedir aos amigos uma simples gentileza: parem de me mandar essas baboseiras pelo email, porque eu já cansei de responder para todo mundo que é tudo mentira.

domingo, 11 de janeiro de 2009

The Day Before...

Amanhã começo mais uma rodada de cursos rápidos (cinco aulas apenas) e minha cabeça está repleta de reflexões. Esse é um fenômeno que sempre acontece comigo, não importa quantas vezes eu tenha ministrado aquele curso - antes de começar as aulas minha cabeça ferve em busca de novos "insights" para compartilhar com meus alunos. Eu diria mesmo que é um vício.

Seria muito mais fácil eu montar um programa de curso que servisse para todas as vezes que ofereço um curso sobre o mesmo assunto. Se o assunto é igual, o programa também é igual. A bibliografia é a mesma, as informações são as mesmas, e até as piadas eventuais podem se repetir. Extremamente confortável.

No entanto o que acontece é muito diferente. Eu sempre quero conferir se não houve mudanças na base de informações. Novas descobertas, novos ensaios publicados, uma nova perspectiva para os dados já coletados. Se não fizer isso, eu sinto que não estou sendo honesto com meus alunos. Se o curso é de Sânscrito, imagino a possibilidade de um aluno que tenha já alguma fluência na linguagem e preparo alguma coisa especial para ele (caso ele de fato apareça). Se é um curso de meditação, procuro novidades que tenham apresentado sucesso para o praticante imergir em si mesmo. Se vamos falar de História, então, chiii... A cada dia um fato novo é descoberto e grandes teorias desabam para abrir caminho para uma nova imagem do passado.

Eu parto do princípio de que meus alunos têm sede de aprender, e que não querem apenas colecionar informações. Um bom aluno é aquele que deseja o desfrute do "insight" - e é exatamente isso que eu quero oferecer a cada um deles.

Mas o que é o "insight"?

Às vezes, quando usamos palavras estrangeiras para dizer alguma coisa, o fazemos por não saber exatamente o que queremos dizer. Um estrangeirismo ou simplesmente uma palavra de outra língua podem constituir um fantástico recurso retórico para convencer os outros de que sabemos muito sobre aquilo que ignoramos. É muito frequente o uso de palavras desse tipo por pessoas que precisam vender para o público uma imagem de "expert" (viu só?) em alguma área do conhecimento.

Quando eu uso a palavra "insight", no entanto, estou me referindo, de maneira abreviada, a uma idéia que está bastante clara para mim, e que vou reproduzir aqui por extenso para compartilhar com você o tema de minha reflexão de hoje. O "insight" (literalmente, um "vislumbre interior") é uma visão mental que se descortina para nós, em geral subitamente, quando nosso pensamento acerta a trajetória e dirige a nossa atenção para uma idéia esclarecedora de um determinado assunto. Quando isso acontece, o assunto parece se tornar mais claro e bem delineado ante nossa intuição.

O "insight" é uma peça muito importante em nossa vida subjetiva - é talvez a mais importante de todas as peças que compõem o mecanismo de nossa vida pessoal. Quando ele orienta nossas decisões, nada pode dar errado. Ele é o melhor conselheiro para nossos relacionamentos e também o melhor consultor para a nossa vida profissional. Sem o "insight" nenhuma piada tem graça, nem tampouco a tragédia alcança profundidade. O assombro de uma descoberta é o eco de um grande "insight". As mais divertidas gracinhas que as crianças protagonizam são seus primeiros ensaios de "insight". E a firmeza de caráter é absolutamente impossível sem ele.

O "insight" nos oferece a convicção, que em geral atribuímos ao esforço do intelecto. Mas o verdadeiro brilho do "insight" produz um resultado muito mais inspirador: a fé. As crenças que fundamentam nossa relação com a natureza, e que nos dão coragem para enfrentar quaisquer adversidades que nos confrontem, são o produto de "insights" - e a força desse fenômeno em nossa vida me parece uma questão sem controvérsia.

O "insight" é a nossa experiência imediata com o aspecto superior de nossa inteligência, que é tão importante e necessário para nós que arrisco dizer que a sua ausência é similar à falta de ar nos pulmões ou de água e comida no estômago. Precisamos de inteligência para viver dignamente - e essa inteligência não provem de livros, escolas ou de nenhum guru renunciante vestido de açafrão. Essa inteligência, com todo o potencial de dar sentido à nossa vida está latente dentro de cada um de nós, pronta para explodir a qualquer momento na forma de um adorável "insight".

O despertar dessa inteligência é a única força que dá sentido à nossa vida. Essa é a minha crença. E essa exatamente é a razão de eu me preparar tão intensamente cada vez que vai se iniciar um novo curso. Quando eu entrar na sala de aula estarei diante de indivíduos sedentos de "insights", e é meu compromisso oferecer a melhor oportunidade que eu seja capaz de construir, para que eles encontrem essa extraordinária riqueza que é a inteligência perfeita que cada um deles traz dentro de si, sempre.