domingo, 11 de janeiro de 2009

The Day Before...

Amanhã começo mais uma rodada de cursos rápidos (cinco aulas apenas) e minha cabeça está repleta de reflexões. Esse é um fenômeno que sempre acontece comigo, não importa quantas vezes eu tenha ministrado aquele curso - antes de começar as aulas minha cabeça ferve em busca de novos "insights" para compartilhar com meus alunos. Eu diria mesmo que é um vício.

Seria muito mais fácil eu montar um programa de curso que servisse para todas as vezes que ofereço um curso sobre o mesmo assunto. Se o assunto é igual, o programa também é igual. A bibliografia é a mesma, as informações são as mesmas, e até as piadas eventuais podem se repetir. Extremamente confortável.

No entanto o que acontece é muito diferente. Eu sempre quero conferir se não houve mudanças na base de informações. Novas descobertas, novos ensaios publicados, uma nova perspectiva para os dados já coletados. Se não fizer isso, eu sinto que não estou sendo honesto com meus alunos. Se o curso é de Sânscrito, imagino a possibilidade de um aluno que tenha já alguma fluência na linguagem e preparo alguma coisa especial para ele (caso ele de fato apareça). Se é um curso de meditação, procuro novidades que tenham apresentado sucesso para o praticante imergir em si mesmo. Se vamos falar de História, então, chiii... A cada dia um fato novo é descoberto e grandes teorias desabam para abrir caminho para uma nova imagem do passado.

Eu parto do princípio de que meus alunos têm sede de aprender, e que não querem apenas colecionar informações. Um bom aluno é aquele que deseja o desfrute do "insight" - e é exatamente isso que eu quero oferecer a cada um deles.

Mas o que é o "insight"?

Às vezes, quando usamos palavras estrangeiras para dizer alguma coisa, o fazemos por não saber exatamente o que queremos dizer. Um estrangeirismo ou simplesmente uma palavra de outra língua podem constituir um fantástico recurso retórico para convencer os outros de que sabemos muito sobre aquilo que ignoramos. É muito frequente o uso de palavras desse tipo por pessoas que precisam vender para o público uma imagem de "expert" (viu só?) em alguma área do conhecimento.

Quando eu uso a palavra "insight", no entanto, estou me referindo, de maneira abreviada, a uma idéia que está bastante clara para mim, e que vou reproduzir aqui por extenso para compartilhar com você o tema de minha reflexão de hoje. O "insight" (literalmente, um "vislumbre interior") é uma visão mental que se descortina para nós, em geral subitamente, quando nosso pensamento acerta a trajetória e dirige a nossa atenção para uma idéia esclarecedora de um determinado assunto. Quando isso acontece, o assunto parece se tornar mais claro e bem delineado ante nossa intuição.

O "insight" é uma peça muito importante em nossa vida subjetiva - é talvez a mais importante de todas as peças que compõem o mecanismo de nossa vida pessoal. Quando ele orienta nossas decisões, nada pode dar errado. Ele é o melhor conselheiro para nossos relacionamentos e também o melhor consultor para a nossa vida profissional. Sem o "insight" nenhuma piada tem graça, nem tampouco a tragédia alcança profundidade. O assombro de uma descoberta é o eco de um grande "insight". As mais divertidas gracinhas que as crianças protagonizam são seus primeiros ensaios de "insight". E a firmeza de caráter é absolutamente impossível sem ele.

O "insight" nos oferece a convicção, que em geral atribuímos ao esforço do intelecto. Mas o verdadeiro brilho do "insight" produz um resultado muito mais inspirador: a fé. As crenças que fundamentam nossa relação com a natureza, e que nos dão coragem para enfrentar quaisquer adversidades que nos confrontem, são o produto de "insights" - e a força desse fenômeno em nossa vida me parece uma questão sem controvérsia.

O "insight" é a nossa experiência imediata com o aspecto superior de nossa inteligência, que é tão importante e necessário para nós que arrisco dizer que a sua ausência é similar à falta de ar nos pulmões ou de água e comida no estômago. Precisamos de inteligência para viver dignamente - e essa inteligência não provem de livros, escolas ou de nenhum guru renunciante vestido de açafrão. Essa inteligência, com todo o potencial de dar sentido à nossa vida está latente dentro de cada um de nós, pronta para explodir a qualquer momento na forma de um adorável "insight".

O despertar dessa inteligência é a única força que dá sentido à nossa vida. Essa é a minha crença. E essa exatamente é a razão de eu me preparar tão intensamente cada vez que vai se iniciar um novo curso. Quando eu entrar na sala de aula estarei diante de indivíduos sedentos de "insights", e é meu compromisso oferecer a melhor oportunidade que eu seja capaz de construir, para que eles encontrem essa extraordinária riqueza que é a inteligência perfeita que cada um deles traz dentro de si, sempre.