domingo, 20 de janeiro de 2008

Desunião e Yoga



"Yoga é união". Este é um clichê interessante, que ainda hoje continua a ser repetido por praticantes ou teóricos dessa arte. A palavra "yoga", na verdade, não significa "união", mas ainda assim a tradução é aceitavel, se a intenção for boa. No universo profissional do Yoga, no entanto, "união" é um termo que tem andado meio fora de moda.
Há algumas décadas, quando conheci o Yoga, poucos eram os instrutores dessa prática. Pouca, também, a informação disponível sobre o assunto. Essa era de fato a maior dificuldade, trinta e cinco anos atrás: obter informações - quaisquer que fossem elas. Era incrível como os aficionados do Yoga ficavam felizes com uma simples matéria que saísse na revista "Fatos & Fotos" ou na popular "Manchete", tomando esse material como referência de reconhecimento para suas crenças pessoais. Nos anos sessenta, vez por outra saia uma "reportagem" fotográfica sobre praticantes de Yoga, cheia de fotos mostrando posturas exóticas e pessoas com expressão de êxtase místico. Me lembro de uma dessas matérias, com fotos tomadas em um parque (talvez a Floresta da Tijuca) no Rio de Janeiro. Foi o maior sucesso, pelo que posso recordar.

Era uma época de muita ingenuidade, aquela. E olha que não faz tanto tempo assim. Entre os anos 50 e 70, qualquer um que conseguisse manter uma conversação coerente por mais de vinte minutos sobre algum assunto - inclusive o Yoga - poderia se tornar referência para o tema. Talvez você conheça algum figurão daquela época que se enquadre nesse perfil. E era possível dizer o que bem se quisesse, pois dificilmente haveria alguém para contestar suas opiniões, tal a dificuldade de acesso ao conhecimento.

As dificuldades eram muitas. Meu primeiro dicionário de Sânscrito, uma publicação da fantástica editora indiana "Motilal Banarsidass" foi conseguido a duras penas depois de muita troca de correspondência (pelo correio tradicional, em papel) e uma ordem de pagamento internacional carregada de burocracia. Depois disso, ainda esperei mais de seis meses até que o pacote com meu livro atravessasse o Saara no lombo de um camelo e fosse despachado em navio a partir do Marrocos. Um ano inteiro se passou entre o momento da decisão e a chegada do livro em minha casa. E isso foi há apenas trinta e poucos anos.

Hoje ninguém mais poderia reclamar que o acesso à informação é difícil. Uns poucos cliques de mouse unem rapidamente qualquer cybercidadão às respostas de que necessite. Uma consulta bem orientada no "Google" responde a qualquer dúvida que o internauta possa levantar. E ele ainda pode comprar qualquer livro pela Internet, e recebê-lo em sua casa em poucos dias, na pior das hipóteses.

Esse quadro sugere que seria bastante natural que hoje não houvessem mais disputas de opinião, como aquelas de antigamente, quando o desafio era conseguir provar que estava certo, ou que seu oponente estava errado. Teoricamente deveríamos estar todos compartilhando as mesmas preciosas informações sobre os temas de nosso interesse, e jamais seríamos afetados por conflitos de idéias.

Infelizmente não é assim que a coisa funciona. A informação às vezes parece uma lente de aumento, pronta para ampliar as minúcias de nossa diversidade. Onde poderia haver consenso, surge conflito. Onde poderia haver união, discórdia. Essa é a armadilha que ronda os atuais simpatizantes do Yoga, pronta para inspirar desentendimentos verossímeis e intelectualmente bem articulados. Aos yoguinas desta hora está sobrando informação, vocabulário e teoria, mas às vezes falta o bom senso básico dessa doutrina. E o perigo espreita muito de perto uma minoria, que anda miseravelmente pobre de inteligência.

Então vamos ficar despertos. Ainda há muitas tentativas de alimentar discórdia entre os instrutores e praticantes do Yoga. Mas se disseminarmos um pouco de vigilância e boa vontade por aí, certamente há uma boa chance de encontrarmos a Paz nesse "front".

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