Pessoalmente não tenho nada contra fazer uma tatuagem. Não faria, mas aprecio essa arte que deve ser tão antiga quanto a própria Humanidade. E é natural, também, que os "tatuandos" tenham o desejo de grafar alguma coisa em seu corpo com o alfabeto Devanagari - aquele que se usa para escrever em Sânscrito. Digo isso porque toda hora recebo alguma mensagem pedindo tal ou qual palavra ou frase para alguém se tatuar "em Sânscrito". E que me perdoem os consulentes, mas raramente tenho tempo para responder a essas consultas.
Como transito no ambiente de praticantes de yoga, tem sido freqüente encontrar algum braço ou ombro tatuado com dizeres grafados em Devanagari (o alfabeto). Não faço comentários sem ser solicitado, mas vou confessar que me espantam algumas barbaridades que as pessoas deixaram gravar em sua pele - possivelmente sem ter consciência do que estavam escrevendo.
Vamos esclarecer. Não tenho nada a dizer quanto ao conteúdo dos grafismos, que são assunto da conta apenas de quem solicita a tatuagem. Mas nunca soube de algum tatuador que tivesse estudado o Sânscrito ou que estivesse familiarizado com o alfabeto Devanagari. Isto significa que os clientes, muito provavelmente, estão levando para o tatuador o "desenho" da palavra ou frase que querem grafar em seu corpo. E mais provavelmente ainda, estão solicitando de alguma outra pessoa o modelo para levar ao tatuador. É como uma corrente. O tatuador não sabe, e então pede ao cliente que já leve pronto. O cliente também não sabe, e então faz uma busca na Internet para tentar achar quem possa escrever um nome no alfabeto Devanagari ou uma palavra ou duas da língua sânscrita mesmo.
E então o infeliz encontra alguém que diz que sabe - e às vezes até pede uma grana para fazer o trabalho - mas na verdade não sabe. O desconhecimento de um, aliado à ousadia do outro que também não conhece, mas diz que conhece, produz as barbaridades às quais me referi. São palavras grafadas de maneira completamente errada impressas em caráter permanente (pois sua remoção é difícil e envolve um sofrimento muito maior que a gravação) na fachada corporal de uma beldade que passeia por aí, com muito orgulho. Não há dinheiro mais mal gasto do que esse...
A conclusão inevitável é que não vale a pena tatuar na pele algum grafismo que não temos certeza de estar corretamente desenhado. Alguém certa vez disse a uma estudante de arquitetura, em Mogi das Cruzes, que restaurantes chineses costumavam escrever provérbios de Confúcio nas beiradas dos cardápios. Disposta a exibir uma frase bonita, visitou um desses estabelecimentos e copiou cuidadosamente alguns ideogramas que enfeitavam os cantos do cardápio, sob o olhar curioso dos garçons. A sua sorte foi que ela não tatuou, mas apenas pintou em um quimono que exibia orgulhosa pelos corredores da faculdade, até cruzar com um estudante chinês, que depois de rir muito explicou para ela o que ela havia escrito, na língua de Confúcio: "este é um prato muito gostoso e bastante barato". O que mais se pode esperar de uma frase impressa num cardápio?
Aviso aos tatuantes: restaurantes indianos não colocam mantras nos cardápios! E pesquisar no Google pode não ser a melhor maneira de encontrar um bom tradutor de Sânscrito. Na verdade é a maneira mais rápida de conseguir o contato errado. O sujeito que poderia resolver o desenho de sua tatuagem nem tem um site para tratar desse assunto. Mas o não-tradutor que se diz tradutor tem presença garantida nos links de resposta de sua busca, exibindo sem pudor nenhum suas obras, como se estivessem todas corretas.
Quando o tatuado descobre que escreveu besteira em si mesmo - e acreditem, essa descoberta é muito rara pois quase ninguém entende Sânscrito por aqui - sua primeira reação é procurar um culpado. O tatuador não é, pois ele apenas reproduziu o desenho, com muita habilidade artística e algumas "firulas" para dar um toque especial à obra. O farsante que vendeu o desenho nunca deu uma garantia, e terá uma lista de argumentos incompreensíveis para dizer que estava certo o que escreveu, alegando talvez que até mesmo indianos o consultam para aquela tarefa. O mico, portanto, vai ficar mesmo com quem carrega a "tosca" tatuagem - e que vai torcer para que ninguém mais perceba que seu sonho de consumo se tornou um pesadelo oriental.
Fica aqui o conselho, portanto, que vale como prevenção contra males maiores: quer fazer uma tatuagem em Sânscrito? Então faça. Mas assegure-se de que está escrevendo a coisa certa. Consulte um especialista de verdade, e não um oportunista. Dezenas de pessoas estudaram Sânscrito a sério e podem te dar uma boa orientação sobre a grafia de sua tatuagem. Se é uma marca definitiva em seu corpo, e você está pagando para fazê-la, então pague um pouco mais para que seja elaborada por um profissional do Sânscrito.
No Yogaforum coloquei uma coluna com links para alguns profissionais que trabalham com o Sânscrito. São pessoas que estudaram a língua em nível superior ou em cursos ministrados por instrutores sérios (daqui ou da Índia), e que são pagos para dar aulas de Sânscrito. Não sei se algum deles teria disponibilidade para pegar esses pequenos serviços de "consultoria para tatuagens", mas certamente é um bom lugar para começar sua pesquisa.
Como prova de minha solidariedade para com os aspirantes a uma tatuagem em Devanagari, vou fazer uma promessa digna de ano eleitoral. Prometo levantar quem são as pessoas capacitadas que se disporiam a dar orientação aos tatuadores e seus clientes, para que uma decisão tão importante como a de estampar uma tatuagem desse tipo fique livre do risco de uma fraude. E assim que essa informação estiver pronta publico aqui mesmo ou no Yogaforum. Até lá vale a recomendação de muita cautela, e de checar em mais de uma fonte se está certo o desenho que vai cicatrizar em você.
terça-feira, 17 de junho de 2008
quinta-feira, 22 de maio de 2008
Olá. Como vai?
Pois é. O Yogaforum está no ar (www.yogaforum.org) e já me dei conta do volume imenso de trabalho que terei ainda até que uma rotina de alimentação de conteúdo se estabeleça. Todo o foco de meu esforço, até o momento, vinha sendo o de preparar o melhor ambiente virtual e conteúdo para os visitantes do site. Mas... que visitantes?
Há muitos anos eu trabalhei na área de publicidade. Naquele tempo não havia Internet, e o conceito de virtualidade só era discutido nas aulas de física ("virtual" era a natureza das imagens refletidas em um espelho). Então, quando montávamos um plano de mídia, nosso alvo eram pessoas de carne e osso, e não "avatares" de algum meta-espaço.
Mas os tempos são outros e precisamos nos conformar às novas regras de comunicação. Este blog é um exemplo de como a nova ordem possibilita uma conversa informal com um visitante virtual de minha página. Olá. Como vai?
Qualquer um pode entrar e sair do Yogaforum. Um surfista de Internet que acidentalmente desemboca por ali, pode dar uma olhada casual e seguir seu fluxo desinteressado. Um tarado pode fuçar por ali atrás de fotos de mulher pelada, e um outro pode estar procurando sugestões para uma balada. A Internet tem o piso escorregadio, e ao menor descuido estamos entrando em espaços que nada têm a ver com a gente.
Mas quando eu me debruçava sobre os rascunhos desse forum virtual, eu não via nenhum desses inúmeros visitantes casuais. Será que eu não deveria me preocupar com eles, também? Há algum tempo eu costumava dizer que nada acontece verdadeiramente por acaso. Até um acidente de navegação pode ter um propósito que nossa percepção não alcança. E então a navegação se torna mística e, quem sabe até iluminadora...
Os povos antigos costumavam dizer que os jogos de azar são para os homens, e que os deuses não jogam dados. Mas caberia perguntar, diante da imensa arquitetura telemática sobre a qual se apóia a maior parte da civilização, hoje: será que Deus navega por esses mares da Internet? Ele poderia ser o responsável por tornar essas avenidas digitais tão reais e atraentes para o cidadão beneficiário da inclusão digital. Talvez ele tenha descoberto que jamais em toda a história religiosa da Humanidade um deus foi tão adorado e cultuado quanto a Internet o é, agora.
Então, fazendo essas reflexões, me sinto muito mais confortado por saber que ao construir o Yogaforum posso ter, simplesmente, atendido a um desígnio divino. E que talvez não me caiba a preocupação acerca de quem vai visitar o meu site - e se tem ou não tem o perfil para o qual ele foi concebido. Movidos pelas forças divinas, os internautas casuais simplesmente vão desfrutar de uns instantes de imersão por ali, e em seguida, sem qualquer constrangimento vão, com um clique a mais, fechar a janela e seguir viagem. Boa viagem, então.
Para aqueles poucos que, diferentes dos casuais, encontrarem ali algum conforto para suas expectativas, peço a gentileza de me presentear com sua opinião, e com muita sinceridade. Pois esse é o momento do trabalho na Internet em que ficamos finalmente diante de uma pessoa por inteiro - ainda que a uma considerável distância virtual. O mundo da Internet repousa sobre uma superfície insegura e escorregadia, onde só se mantém firme quem tem uma opinião bem articulada, na qual possa se apoiar.
Há muitos anos eu trabalhei na área de publicidade. Naquele tempo não havia Internet, e o conceito de virtualidade só era discutido nas aulas de física ("virtual" era a natureza das imagens refletidas em um espelho). Então, quando montávamos um plano de mídia, nosso alvo eram pessoas de carne e osso, e não "avatares" de algum meta-espaço.
Mas os tempos são outros e precisamos nos conformar às novas regras de comunicação. Este blog é um exemplo de como a nova ordem possibilita uma conversa informal com um visitante virtual de minha página. Olá. Como vai?
Qualquer um pode entrar e sair do Yogaforum. Um surfista de Internet que acidentalmente desemboca por ali, pode dar uma olhada casual e seguir seu fluxo desinteressado. Um tarado pode fuçar por ali atrás de fotos de mulher pelada, e um outro pode estar procurando sugestões para uma balada. A Internet tem o piso escorregadio, e ao menor descuido estamos entrando em espaços que nada têm a ver com a gente.
Mas quando eu me debruçava sobre os rascunhos desse forum virtual, eu não via nenhum desses inúmeros visitantes casuais. Será que eu não deveria me preocupar com eles, também? Há algum tempo eu costumava dizer que nada acontece verdadeiramente por acaso. Até um acidente de navegação pode ter um propósito que nossa percepção não alcança. E então a navegação se torna mística e, quem sabe até iluminadora...
Os povos antigos costumavam dizer que os jogos de azar são para os homens, e que os deuses não jogam dados. Mas caberia perguntar, diante da imensa arquitetura telemática sobre a qual se apóia a maior parte da civilização, hoje: será que Deus navega por esses mares da Internet? Ele poderia ser o responsável por tornar essas avenidas digitais tão reais e atraentes para o cidadão beneficiário da inclusão digital. Talvez ele tenha descoberto que jamais em toda a história religiosa da Humanidade um deus foi tão adorado e cultuado quanto a Internet o é, agora.
Então, fazendo essas reflexões, me sinto muito mais confortado por saber que ao construir o Yogaforum posso ter, simplesmente, atendido a um desígnio divino. E que talvez não me caiba a preocupação acerca de quem vai visitar o meu site - e se tem ou não tem o perfil para o qual ele foi concebido. Movidos pelas forças divinas, os internautas casuais simplesmente vão desfrutar de uns instantes de imersão por ali, e em seguida, sem qualquer constrangimento vão, com um clique a mais, fechar a janela e seguir viagem. Boa viagem, então.
Para aqueles poucos que, diferentes dos casuais, encontrarem ali algum conforto para suas expectativas, peço a gentileza de me presentear com sua opinião, e com muita sinceridade. Pois esse é o momento do trabalho na Internet em que ficamos finalmente diante de uma pessoa por inteiro - ainda que a uma considerável distância virtual. O mundo da Internet repousa sobre uma superfície insegura e escorregadia, onde só se mantém firme quem tem uma opinião bem articulada, na qual possa se apoiar.
segunda-feira, 28 de abril de 2008
Minha web para o Sânscrito, finalmente!
Parece brincadeira, mas quando tive a idéia de construir um site pautado pelo Sânscrito e com foco no Yoga, há quase sete anos, não pensei que demoraria tanto tempo para colocá-lo no ar. Foi uma longa gestação, mas finalmente minhas novas rotinas estão se ajustando às minhas antigas aspirações, e o resultado não poderia ser melhor. Em poucos dias estará no ar o site "yogaforum.org" com informações e notícias sobre temas culturais indianos.
A idéia surgiu quando organizei o fórum em defesa da independência do Yoga, que aconteceu em setembro de 2001, no salão nobre da Câmara Municipal de São Paulo. A data do evento se tornou inesquecível, pois foi no dia seguinte ao do ataque terrorista que derrubou as torres do World Trade Center de Nova Iorque. Em 12 de setembro de 2001, enquanto o mundo tentava entender a tragédia nova-iorquina, estavamos reunidos para manifestar nossa convicção sobre a independência do Yoga - contra a despropositada tentativa (ainda em curso) dos conselhos de classe da Educação Física de tomar para si o controle sobre essa prática tradicional indiana.
Éramos poucos, cerca de trezentas e cinquenta pessoas presentes, mas éramos diversificados e expressivos como representação das variadas formas assumidas pelo Yoga por aqui. Maria Helena de Bastos Freire, De Rose, Hermógenes, Cláudio Duarte, Anna Ivanov, estavam compondo a mesa, presidida pelo então vereador Marcos Zerbini. Outros tantos manifestaram seu apoio prestigiando o evento e assinando um manifesto em favor da independência do Yoga.
Esse evento foi concebido para ter o formato de um forum - um encontro de opiniões distintas integradas por interesses comuns. Ali mesmo me ocorreu a idéia de que seria interessante dar continuidade à iniciativa criando um território virtual para ela na Web.
Busquei um nome para o domínio, e o "yogaforum.org" estava disponível. Perfeito. Só faltava então montar o site e colocá-lo no ar...
Apesar de só ter saido dos rascunhos seis anos e meio mais tarde, ele surge com o mesmo entusiasmo que me motivou no início. Porém, diferente da proposta original, o Yogaforum agora deixa de tratar com exclusividade do assunto "yoga" e mergulha um pouco mais a fundo no oceano da Cultura Sânscrita. Ao final de 2006, quando fiz o lançamento experimental do primeiro volume do curso de Sânscrito em DVD, decidi utilizar o servidor "yogaforum.org" como base de distribuição da documentação complementar para cada um dos volumes da coleção. De fato, um selo "ॐ yogaforum.org - Living Sanskrit" já aparece estampado na capa daquele material, embora o site, naquele momento, tenha operado por um breve período apenas, de forma experimental.
Mas ainda que tenha levado tanto tempo para nascer, posso dizer que agora ele está ficando com a cara que eu gostaria que ele tivesse. Nestes últimos dias tenho trabalhado na programação das rotinas de atualização do conteúdo e, embora ciente de que é difícil agradar a todos, creio que estou chegando a uma solução bastante satisfatória para apresentação de informações de interesse dos aficionados pelas culturas da Índia.
Em tempo: como preciso dos anunciantes para ajudar a dar conta do custo desse site, procurei estabelecer alguns filtros para a publicidade - de modo que ela seja útil e esteja naturalmente integrada na experiência de navegação do internauta que apareça por ali.
Então é isso. Agora você ja sabe o endereço (http://www.yogaforum.org/), e está convidado a fazer uma visita nesses próximos dias, a partir de 1º de maio, para explorar o conteúdo (que estará mais rico a cada semana que passa), e dizer um "alô" para aquele anunciante que tiver algo de interessante para te oferecer. E não se esqueça de me dar um retorno para dizer qual foi sua impressão ao passar pelo Yogaforum virtual.
A idéia surgiu quando organizei o fórum em defesa da independência do Yoga, que aconteceu em setembro de 2001, no salão nobre da Câmara Municipal de São Paulo. A data do evento se tornou inesquecível, pois foi no dia seguinte ao do ataque terrorista que derrubou as torres do World Trade Center de Nova Iorque. Em 12 de setembro de 2001, enquanto o mundo tentava entender a tragédia nova-iorquina, estavamos reunidos para manifestar nossa convicção sobre a independência do Yoga - contra a despropositada tentativa (ainda em curso) dos conselhos de classe da Educação Física de tomar para si o controle sobre essa prática tradicional indiana.
Éramos poucos, cerca de trezentas e cinquenta pessoas presentes, mas éramos diversificados e expressivos como representação das variadas formas assumidas pelo Yoga por aqui. Maria Helena de Bastos Freire, De Rose, Hermógenes, Cláudio Duarte, Anna Ivanov, estavam compondo a mesa, presidida pelo então vereador Marcos Zerbini. Outros tantos manifestaram seu apoio prestigiando o evento e assinando um manifesto em favor da independência do Yoga.
Esse evento foi concebido para ter o formato de um forum - um encontro de opiniões distintas integradas por interesses comuns. Ali mesmo me ocorreu a idéia de que seria interessante dar continuidade à iniciativa criando um território virtual para ela na Web.
Busquei um nome para o domínio, e o "yogaforum.org" estava disponível. Perfeito. Só faltava então montar o site e colocá-lo no ar...
Apesar de só ter saido dos rascunhos seis anos e meio mais tarde, ele surge com o mesmo entusiasmo que me motivou no início. Porém, diferente da proposta original, o Yogaforum agora deixa de tratar com exclusividade do assunto "yoga" e mergulha um pouco mais a fundo no oceano da Cultura Sânscrita. Ao final de 2006, quando fiz o lançamento experimental do primeiro volume do curso de Sânscrito em DVD, decidi utilizar o servidor "yogaforum.org" como base de distribuição da documentação complementar para cada um dos volumes da coleção. De fato, um selo "ॐ yogaforum.org - Living Sanskrit" já aparece estampado na capa daquele material, embora o site, naquele momento, tenha operado por um breve período apenas, de forma experimental.
Mas ainda que tenha levado tanto tempo para nascer, posso dizer que agora ele está ficando com a cara que eu gostaria que ele tivesse. Nestes últimos dias tenho trabalhado na programação das rotinas de atualização do conteúdo e, embora ciente de que é difícil agradar a todos, creio que estou chegando a uma solução bastante satisfatória para apresentação de informações de interesse dos aficionados pelas culturas da Índia.
Em tempo: como preciso dos anunciantes para ajudar a dar conta do custo desse site, procurei estabelecer alguns filtros para a publicidade - de modo que ela seja útil e esteja naturalmente integrada na experiência de navegação do internauta que apareça por ali.
Então é isso. Agora você ja sabe o endereço (http://www.yogaforum.org/), e está convidado a fazer uma visita nesses próximos dias, a partir de 1º de maio, para explorar o conteúdo (que estará mais rico a cada semana que passa), e dizer um "alô" para aquele anunciante que tiver algo de interessante para te oferecer. E não se esqueça de me dar um retorno para dizer qual foi sua impressão ao passar pelo Yogaforum virtual.
sexta-feira, 11 de abril de 2008
Literatura tântrica
Para quem gosta de conhecer mais e melhor aqueles segredos místicos das Culturas da Índia, aqui vai uma dica. No mês de julho, dias 19 e 20 (um final de semana) estarei ministrando um curso sobre uma obra curiosa da literatura tântrica. As informações seguem abaixo. O texto foi escrito originalmente em Sânscrito e é muito interessante - mesmo.
O Yogavishaya de Minanatha
Uma Síntese do Universo do Hatha Yoga
Esta obra surpreendente, de autoria atribuída a Minanatha fundador mítico da linhagem tântrica Kaula, se propõe a elucidar a visão Natha sobre o Yoga em apenas 33 linhas de texto. Longe de decepcionar o leitor atento, no entanto, seu autor usa a linguagem cifrada do Tantra para desafiá-lo a fazer a descoberta de uma vida. Seu título sânscrito, “Yogavishaya”, significa “o objeto do Yoga”, ou seja, é uma obra que tem a pretensão de revelar o caminho secreto que os Nathas deveriam trilhar para realizar essa prática. É esse segredo dos criadores do Hatha Yoga que o autor sugere estar oculto por trás de cada palavra desse documento. Para que ele apareça, sua leitura precisa mergulhar para muito além das enigmáticas palavras que enxergamos em sua superfície.
Minanatha, ou Matsyendranatha, teria sido supostamente o guru de Gorakshanatha, mas também foi o inspirador da escola tântrica Pratyabhijña, da qual fazia parte Abhinavagupta, criada na Cachemira décadas antes do surgimento do Hatha Yoga.
Duração: Um final de semana.
Dias 19 e 20 de julho de 2008, das 9:00 às 17:00
R$ 150,00
Material de apoio: apostila
Local: Centro de Estudos de Yoga Narayana. Tel.: (11) 3826.5549
O Yogavishaya de Minanatha
Uma Síntese do Universo do Hatha Yoga
Esta obra surpreendente, de autoria atribuída a Minanatha fundador mítico da linhagem tântrica Kaula, se propõe a elucidar a visão Natha sobre o Yoga em apenas 33 linhas de texto. Longe de decepcionar o leitor atento, no entanto, seu autor usa a linguagem cifrada do Tantra para desafiá-lo a fazer a descoberta de uma vida. Seu título sânscrito, “Yogavishaya”, significa “o objeto do Yoga”, ou seja, é uma obra que tem a pretensão de revelar o caminho secreto que os Nathas deveriam trilhar para realizar essa prática. É esse segredo dos criadores do Hatha Yoga que o autor sugere estar oculto por trás de cada palavra desse documento. Para que ele apareça, sua leitura precisa mergulhar para muito além das enigmáticas palavras que enxergamos em sua superfície.
Minanatha, ou Matsyendranatha, teria sido supostamente o guru de Gorakshanatha, mas também foi o inspirador da escola tântrica Pratyabhijña, da qual fazia parte Abhinavagupta, criada na Cachemira décadas antes do surgimento do Hatha Yoga.
Duração: Um final de semana.
Dias 19 e 20 de julho de 2008, das 9:00 às 17:00
R$ 150,00
Material de apoio: apostila
Local: Centro de Estudos de Yoga Narayana. Tel.: (11) 3826.5549
sexta-feira, 28 de março de 2008
Um nome espiritual
Meu bom amigo Luís de Araújo, editor do jornal "O Aprendiz", de Ribeirão Preto, me pediu para escrever algumas palavras sobre o assunto nome espiritual. Provavelmente está preparando alguma matéria para o seu jornal - que diga-se de passagem, tem levado muita inspiração para os buscadores daquela região. Decidi, então, compartilhar com vocês, os leitores que não são de Ribeirão, a reflexão que mandei para ele.
Aqui vai:
Um nome é uma palavra usada para chamamento que identifica um indivíduo em meio a uma coletividade. O nome sempre foi considerado um elemento importante da vida de uma pessoa, e a escolha do nome é uma tarefa árdua para os pais. Em geral eles acabam procurando uma solução que seja simples e justificável, como uma homenagem a um parente, ou a um personagem famoso ou bem sucedido, ou ainda a um santo, um anjo ou outra figura mítica ou religiosa.
No entanto nunca se sabe, ao escolher o nome, se aquela criança, no futuro, ficará satisfeita com o nome que recebeu. O nome pode evocar referências pouco condizentes com sua personalidade ou aparência - ou simplesmente pode parecer, de alguma maneira, inexpressivo como referência àquela determinada pessoa - ou seja, ela se apresenta e as pessoas respondem "você não tem cara de quem tem esse nome". Isso decorre do fato do nome se vincular à personalidade e à aparência das pessoas, e não necessariamente evocar a sua natureza verdadeira, que poderíamos chamar de "identidade espiritual".
A idéia de se encontrar um nome capaz de evocar a verdadeira pessoa que se oculta por trás da personalidade transitória é bastante antiga. Esse seria o nome perfeito, sem qualquer sombra de dúvida. Em diversas civilizações do presente e do passado existiu essa intenção de encontrar alguma maneira de atribuir um nome perfeito para cada ser humano: o nome espiritual. E a solução encontrada quase sempre implicou na atribuição de um nome mundano que a criança carregaria até a adolescência, quando receberia um novo nome ao passar por um rito de iniciação na vida adulta. Dessa forma, seria possível identificar pelos traços já visíveis de seu temperamento qual seria o nome mais adequado para designar o espírito oculto sob a aparência daquele determinado indivíduo.
Na Índia, o nome espiritual é escolhido pelo "guru", o preceptor espiritual da família, e esse nome é mantido em segredo pelo adolescente ou adulto que o recebe. Acredita-se que tem o valor e a força de um "mantra", capaz de evocar as melhores qualidades da pessoa, quando pronunciado com boas intenções. Daí a opção por mantê-lo em segredo, longe dos lábios invejosos de possíveis adversários. Essa prática de atribuição de um nome espiritual iniciático foi adotada também por organizações espiritualistas de todo o mundo, tentando seguir o rastro de nossos sábios antepassados.
A sociedade ocidental contemporânea, no entanto, de uma forma geral não oferece mais esse mecanismo de um "batismo " espiritual, e por essa razão, o máximo que conseguimos é um apelido horroroso, que apenas faz justiça à opinião de quem só tem olhos para os nossos defeitos.
Aqui vai:
Um nome é uma palavra usada para chamamento que identifica um indivíduo em meio a uma coletividade. O nome sempre foi considerado um elemento importante da vida de uma pessoa, e a escolha do nome é uma tarefa árdua para os pais. Em geral eles acabam procurando uma solução que seja simples e justificável, como uma homenagem a um parente, ou a um personagem famoso ou bem sucedido, ou ainda a um santo, um anjo ou outra figura mítica ou religiosa.
No entanto nunca se sabe, ao escolher o nome, se aquela criança, no futuro, ficará satisfeita com o nome que recebeu. O nome pode evocar referências pouco condizentes com sua personalidade ou aparência - ou simplesmente pode parecer, de alguma maneira, inexpressivo como referência àquela determinada pessoa - ou seja, ela se apresenta e as pessoas respondem "você não tem cara de quem tem esse nome". Isso decorre do fato do nome se vincular à personalidade e à aparência das pessoas, e não necessariamente evocar a sua natureza verdadeira, que poderíamos chamar de "identidade espiritual".
A idéia de se encontrar um nome capaz de evocar a verdadeira pessoa que se oculta por trás da personalidade transitória é bastante antiga. Esse seria o nome perfeito, sem qualquer sombra de dúvida. Em diversas civilizações do presente e do passado existiu essa intenção de encontrar alguma maneira de atribuir um nome perfeito para cada ser humano: o nome espiritual. E a solução encontrada quase sempre implicou na atribuição de um nome mundano que a criança carregaria até a adolescência, quando receberia um novo nome ao passar por um rito de iniciação na vida adulta. Dessa forma, seria possível identificar pelos traços já visíveis de seu temperamento qual seria o nome mais adequado para designar o espírito oculto sob a aparência daquele determinado indivíduo.
Na Índia, o nome espiritual é escolhido pelo "guru", o preceptor espiritual da família, e esse nome é mantido em segredo pelo adolescente ou adulto que o recebe. Acredita-se que tem o valor e a força de um "mantra", capaz de evocar as melhores qualidades da pessoa, quando pronunciado com boas intenções. Daí a opção por mantê-lo em segredo, longe dos lábios invejosos de possíveis adversários. Essa prática de atribuição de um nome espiritual iniciático foi adotada também por organizações espiritualistas de todo o mundo, tentando seguir o rastro de nossos sábios antepassados.
A sociedade ocidental contemporânea, no entanto, de uma forma geral não oferece mais esse mecanismo de um "batismo " espiritual, e por essa razão, o máximo que conseguimos é um apelido horroroso, que apenas faz justiça à opinião de quem só tem olhos para os nossos defeitos.
quarta-feira, 26 de março de 2008
Deixe cair a ficha...
Poucas coisas são mais gratificantes do que um belo "insight". Aqueles momentos em que as idéias, que antes estavam confusas, num repente se encaixam perfeitamente, como num passe de mágica, e nos dão a felicidade da perfeita compreensão de seu sentido. É algo tão delicioso que queremos compartilhar com todo mundo.
Mas é justamente aí que surge o problema. O "insight" é uma experiência absolutamente pessoal e dificilmente surge de um modo que possa ser transferido ou compartilhado com outra pessoa. Esse é o seu charme e a sua maldição - ele é o resultado de uma atitude de busca ativa. Não pode ser recebido passivamente de alguém que desfrutou dele anteriormente.
Mesmo assim, ficamos ansiosos por compartilhar.
A condição do portador do "insight" é a mesma de uma criança diante do processo do aprendizado - e não apenas aquele da escola formal, mas também, e principalmente, o aprendizado que a vida oferece aos que não têm vergonha de admitir que ainda não sabem. A criança diz - "não sei" e fica olhando para a gente com aqueles olhinhos que pedem para ser surpreendidos com um belo truque de mágica. Ela não quer adivinhar e dar uma resposta esperta - coisa de adulto - mas se diverte com não saber e ter a chance de uma nova descoberta. A vida é muito gratificante na infância, enquanto ainda não temos o desejo de parecer melhores que os outros e entrar na competição que transforma nossos antigos amigos em adversários que devemos temer. Para que eu ia querer ser melhor que os outros, e não ter mais alguém com quem dividir a minha curiosidade e talvez compartilhar o "insight"?
Só temos "insights" quando estamos humildes e reconhecemos que alguém mais pode nos oferecer a pecinha que falta para concluir nosso quebra-cabeças. Quando ainda somos capazes de extrair alegria por juntar idéias ou por ler uma poesia. Porque a poesia, quando é poesia de verdade, é a mais incrível fonte de "insights".
Os hindus chamam os seu maiores sábios - aqueles que trouxeram a revelação dos Vedas, de "poetas". De poesia é feito o próprio Universo, onde os deuses são apenas mantras - e por isso mesmo são tão poderosos...
Se você quer encontrar a felicidade digna de um grande yogui, o primeiro passo é olhar para sua própria ignorância como uma oportunidade de aprendizado. E olhar para o aprendizado como uma oportunidade de encontrar a alegria do "insight". E olhar para o "insight" como um retorno à inocência da infância, como se você houvesse bebido do néctar da imortalidade.
Aquele que já sentiu o prazer de um único "insight" sempre estará atento para não perder o próximo. Mãos à obra, portanto. Pergunte alguma coisa para alguém, com um desejo verdadeiro de elucidar alguma dúvida. Ou, se preferir, abra um livro de poesias. Faça uma meditação ou cante um mantra - e fique atento ao que se passa dentro de seu coração.
E vamos deixar, mais uma vez, cair a ficha...
Mas é justamente aí que surge o problema. O "insight" é uma experiência absolutamente pessoal e dificilmente surge de um modo que possa ser transferido ou compartilhado com outra pessoa. Esse é o seu charme e a sua maldição - ele é o resultado de uma atitude de busca ativa. Não pode ser recebido passivamente de alguém que desfrutou dele anteriormente.
Mesmo assim, ficamos ansiosos por compartilhar.
A condição do portador do "insight" é a mesma de uma criança diante do processo do aprendizado - e não apenas aquele da escola formal, mas também, e principalmente, o aprendizado que a vida oferece aos que não têm vergonha de admitir que ainda não sabem. A criança diz - "não sei" e fica olhando para a gente com aqueles olhinhos que pedem para ser surpreendidos com um belo truque de mágica. Ela não quer adivinhar e dar uma resposta esperta - coisa de adulto - mas se diverte com não saber e ter a chance de uma nova descoberta. A vida é muito gratificante na infância, enquanto ainda não temos o desejo de parecer melhores que os outros e entrar na competição que transforma nossos antigos amigos em adversários que devemos temer. Para que eu ia querer ser melhor que os outros, e não ter mais alguém com quem dividir a minha curiosidade e talvez compartilhar o "insight"?
Só temos "insights" quando estamos humildes e reconhecemos que alguém mais pode nos oferecer a pecinha que falta para concluir nosso quebra-cabeças. Quando ainda somos capazes de extrair alegria por juntar idéias ou por ler uma poesia. Porque a poesia, quando é poesia de verdade, é a mais incrível fonte de "insights".
Os hindus chamam os seu maiores sábios - aqueles que trouxeram a revelação dos Vedas, de "poetas". De poesia é feito o próprio Universo, onde os deuses são apenas mantras - e por isso mesmo são tão poderosos...
Se você quer encontrar a felicidade digna de um grande yogui, o primeiro passo é olhar para sua própria ignorância como uma oportunidade de aprendizado. E olhar para o aprendizado como uma oportunidade de encontrar a alegria do "insight". E olhar para o "insight" como um retorno à inocência da infância, como se você houvesse bebido do néctar da imortalidade.
Aquele que já sentiu o prazer de um único "insight" sempre estará atento para não perder o próximo. Mãos à obra, portanto. Pergunte alguma coisa para alguém, com um desejo verdadeiro de elucidar alguma dúvida. Ou, se preferir, abra um livro de poesias. Faça uma meditação ou cante um mantra - e fique atento ao que se passa dentro de seu coração.
E vamos deixar, mais uma vez, cair a ficha...
domingo, 9 de março de 2008
Tradutor, um traidor...
Parece incrível como as traduções de textos de culturas orientais são difíceis para nós, ocidentais. E isso é particularmente verdadeiro para a literatura sânscrita, onde a maior causa de distorções é a autoridade dos especialistas.
É incrível a quantidade de erros de tradução que encontro diariamente quando leio as traduções de autoridades acadêmicas. O Rig Veda de Griffith é um exemplo típico, onde erros grosseiros impedem uma leitura fluente de qualquer dos hinos - fazendo parecer que os antigos védicos tinham um modo muito esquisito de dizer as coisas. Na verdade parece que alguns tradutores, quando não têm certeza sobre o que está registrado no texto original, pulam sem aviso aquele trecho duvidoso ou simplesmente inventam alguma coisa para escrever ali - só para não deixar passar em branco...
Outra marca registrada de alguns "tradutores clássicos" é o fato de utilizarem versões arcaicas de suas próprias línguas - o estilo "bíblico" - como se isso fosse dar mais credibilidade ou autenticidade à tradução de textos antigos. Isso é um hábito muito frequente nas traduções para o Inglês. O que eles conseguem é apenas tornar ainda mais difícil a leitura, o que possivelmente vai disfarçar um pouco as suas falhas de tradução.
O grande problema com essas falhas de tradução é que elas se propagam por diversos outros textos que as tomam por referência, e que acabam por dar a elas uma credibilidade que não merecem.
Certa ocasião, na Universidade de São Paulo, quando eu ainda estudava Sânscrito, o professor Mario Ferreira contou que fazia um estudo sobre os nomes de posturas do Hatha Yoga quando se deparou com um nome que ainda não conhecia - a "postura da lagosta". Ao procurar pelo nome original sânscrito ele encontrou a shalabhAsanam, ou seja, a "postura do gafanhoto". A tradução estava errada. Para seu espanto, porém, muitos outros livros registravam o mesmo erro, alguns inclusive trazendo o nome original sânscrito estampado junto à tradução equivocada - o que, aliás, servia de prova e atestado da ignorância do autor. Quase trinta publicações, na época, reproduziam o erro de tradução. Mas como isso teria ocorrido? Uma consulta às bibliografias dessas publicações logo revelou o DNA e a árvore genealógica do problema. Um livro que aparecia na fonte, como referência para os demais, era uma tradução de um original em Inglês - no qual o nome da postura fora traduzido corretamente como "gafanhoto". O erro, desta vez, havia sido da tradução a partir do Inglês, onde gafanhoto é "locust", e o tradutor, num ato falho, traduziu "locust" por "lagosta" (em Inglês, "lobster").
Ainda que se entenda o fato de um tradutor de Inglês não conhecer o Sânscrito, não podemos perdoar a falta de revisão de seu erro na tradução do Inglês. E menos ainda a cara-de-pau de autores locais que posaram de entendidos do Sânscrito, colocando em seus livros o nome original da postura, e copiando o erro grosseiro de tradução produzido pelo descuidado tradutor do Inglês. Haja paciência...
Esse caso contado pelo professor Mario Ferreira aos seus alunos (entre os quais, eu), por volta de 1980, me deixou uma impressão muito forte acerca da responsabilidade de quem trabalha com outras línguas. Reforçou também a minha convicção de que quem quer conhecer a riquíssima diversidade das Culturas da Índia precisa considerar a possibilidade de fazê-lo nas suas línguas originais.
É aqui que minha convicção sobre o a importância de se disseminar o acesso ao Sânscrito se fortalece. O mercado oferece excelentes tradutores para um grande número de línguas que dão corpo a culturas fascinantes, mas o Sânscrito está mal servido, nesse mercado. A grande autoridade "moral" de alguns tradutores não melhora em nada a pobreza de seu trabalho com essa língua fantástica.
Posso garantir a você que há muito, mas muito mesmo, a ser aprendido por nós dos "insights" que nossos antepassados indianos tiveram há dois, três, quatro mil anos ou mais. Mas minha recomendação, no caso do Sânscrito, será sempre a de estudar a língua e ler o texto diretamente no original. Garanto a você que o resultado paga com folga todo o esforço investido nesse aprendizado.
É incrível a quantidade de erros de tradução que encontro diariamente quando leio as traduções de autoridades acadêmicas. O Rig Veda de Griffith é um exemplo típico, onde erros grosseiros impedem uma leitura fluente de qualquer dos hinos - fazendo parecer que os antigos védicos tinham um modo muito esquisito de dizer as coisas. Na verdade parece que alguns tradutores, quando não têm certeza sobre o que está registrado no texto original, pulam sem aviso aquele trecho duvidoso ou simplesmente inventam alguma coisa para escrever ali - só para não deixar passar em branco...
Outra marca registrada de alguns "tradutores clássicos" é o fato de utilizarem versões arcaicas de suas próprias línguas - o estilo "bíblico" - como se isso fosse dar mais credibilidade ou autenticidade à tradução de textos antigos. Isso é um hábito muito frequente nas traduções para o Inglês. O que eles conseguem é apenas tornar ainda mais difícil a leitura, o que possivelmente vai disfarçar um pouco as suas falhas de tradução.
O grande problema com essas falhas de tradução é que elas se propagam por diversos outros textos que as tomam por referência, e que acabam por dar a elas uma credibilidade que não merecem.
Certa ocasião, na Universidade de São Paulo, quando eu ainda estudava Sânscrito, o professor Mario Ferreira contou que fazia um estudo sobre os nomes de posturas do Hatha Yoga quando se deparou com um nome que ainda não conhecia - a "postura da lagosta". Ao procurar pelo nome original sânscrito ele encontrou a shalabhAsanam, ou seja, a "postura do gafanhoto". A tradução estava errada. Para seu espanto, porém, muitos outros livros registravam o mesmo erro, alguns inclusive trazendo o nome original sânscrito estampado junto à tradução equivocada - o que, aliás, servia de prova e atestado da ignorância do autor. Quase trinta publicações, na época, reproduziam o erro de tradução. Mas como isso teria ocorrido? Uma consulta às bibliografias dessas publicações logo revelou o DNA e a árvore genealógica do problema. Um livro que aparecia na fonte, como referência para os demais, era uma tradução de um original em Inglês - no qual o nome da postura fora traduzido corretamente como "gafanhoto". O erro, desta vez, havia sido da tradução a partir do Inglês, onde gafanhoto é "locust", e o tradutor, num ato falho, traduziu "locust" por "lagosta" (em Inglês, "lobster").
Ainda que se entenda o fato de um tradutor de Inglês não conhecer o Sânscrito, não podemos perdoar a falta de revisão de seu erro na tradução do Inglês. E menos ainda a cara-de-pau de autores locais que posaram de entendidos do Sânscrito, colocando em seus livros o nome original da postura, e copiando o erro grosseiro de tradução produzido pelo descuidado tradutor do Inglês. Haja paciência...
Esse caso contado pelo professor Mario Ferreira aos seus alunos (entre os quais, eu), por volta de 1980, me deixou uma impressão muito forte acerca da responsabilidade de quem trabalha com outras línguas. Reforçou também a minha convicção de que quem quer conhecer a riquíssima diversidade das Culturas da Índia precisa considerar a possibilidade de fazê-lo nas suas línguas originais.
É aqui que minha convicção sobre o a importância de se disseminar o acesso ao Sânscrito se fortalece. O mercado oferece excelentes tradutores para um grande número de línguas que dão corpo a culturas fascinantes, mas o Sânscrito está mal servido, nesse mercado. A grande autoridade "moral" de alguns tradutores não melhora em nada a pobreza de seu trabalho com essa língua fantástica.
Posso garantir a você que há muito, mas muito mesmo, a ser aprendido por nós dos "insights" que nossos antepassados indianos tiveram há dois, três, quatro mil anos ou mais. Mas minha recomendação, no caso do Sânscrito, será sempre a de estudar a língua e ler o texto diretamente no original. Garanto a você que o resultado paga com folga todo o esforço investido nesse aprendizado.
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